PROPINAS ABORRECIDAS SUNT
Fui Bolseiro. Licenciei-me com dificuldades financeiras. Vindas não do meu gosto por noitadas e trapinhos de marca, mas do simples facto da minha família viver com rendimentos modestos, fruto de um trabalho duro e constante. Mas a coisa fez-se, entre o que os meus pais conseguiam tirar dos seus "luxos" e um minúsculo apoio do estado (12 contos, para ser mais exacto, não há assim tanto tempo...). Isto não é Dickens e considero-me sortudo por não ter tido que trabalhar na estiva ou na restauração durante esse tempo. Pude aprender e crescer por dentro durante mais alguns anos.
Hoje, escutava as declarações indignadas de um rapazito do Técnico que se queixava do aumento das propinas. Vão para cerca de 800 € anuais, para os não-bolseiros. Qualquer coisa como (calculando 10 meses) 80 € mensais. E "sem que tênhamos visto melhorias na escola desde o ano passado", declarava o rapaz. Pareceu-me vê-lo de "traje académico", aquela coisa clownesca de que os comerciantes se lembraram de vender. Não sei quanto é que custou; nem quanto é que custam as noitadas da "Semana do Caloiro", ou as idas semanais à discoteca... mas desconfio que será mais de 80 €.
Eu estou sempre na primeira fila dos que refilam, como é do conhecimento geral. Contudo, talvez fosse interessante pensar quanto é que custa por ano, cada aluno, aos bolsos de nós todos. Ou ver o grau de empenhamento e de reconhecimento perante o esforço não só da família, mas de todos nós contribuintes, para lhe pagar as passeatas até às aulas e os chumbos sucessivos. Ou saber se em vez de ir para a faculdade, de cu tremido no carro que o pai lhe deu e está a pagar a prestações, se não poderia comparar a porra de um passe, como todos nós e deslocar essas verbas para pagar as propinas, aligeirando o orçamento familiar...
Ou se em vez de querer ser o Rei dos Palhaços, embrulhado nos panejões pretos, não poderia ser o Rei dos Estudantes, estudando e investigando, nas bibliotecas que não lhe custam dinheiro, ou nos computadores da faculdade que custam a todos?...
Parece um discurso reaccionário? Talvez, se acreditarmos que o mundo é uma bola de algodão onde estamos deitados de rabinho para a lua, com as coisas doces da vida a cairem-nos suavemente em cima.
Caso contrário, tenham lá paciência e estudem mas é para os exames!
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